Relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas prevê incremento de 5,5 graus no bioma até 2.100
As projeções para o aumento de
temperatura nas áreas de Cerrado ficaram mais preocupantes com a divulgação na
semana passada do primeiro relatório do Painel Brasileiro de Mudanças
Climáticas (PBMC), em São Paulo. O documento acrescenta em mais 2 graus a previsão
de aumento da temperatura para as áreas pertencentes ao bioma, em relação à
última estimativa. No cenário divulgado agora, os cientistas preveem incremento
de 5,5 graus até o ano de 2100.
Esse relatório teve como parâmetro os outros que
foram publicados pelo Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC,
na sigla em inglês), em 2007. O organismo internacional, criado para analisar
as tendências do clima, indicava que a temperatura no Cerrado poderia aumentar
3,5 graus até o fim do século.
Os pesquisadores afirmam que as
mudanças estão em andamento. Até 2040, os períodos de secas e estiagens
prolongadas devem crescer e a temperatura tende a aumentar em 1 grau, o
suficiente para afetar o regime de chuvas, a vazão de rios, o abastecimento de
lençóis freáticos que fornecem água potável, a agricultura e o setor de
energia. Os impactos seriam sociais e econômicos, com crises de abastecimento
energético e de segurança alimentar.
Na semana passada, o PBMC
divulgou o sumário dos três volumes do relatório. O último teve um capítulo
coordenado pelo pesquisador Manuel Ferreira, do Laboratório de Processamento de
Imagens e Geoprocessamento (Lapig), da Universidade Federal de Goiás. O
documento trata da mitigação das mudanças climáticas e revela que os povos que
vivem no Cerrado devem enfrentar eventos climáticos extremos nas próximas
décadas.
A análise de temperatura alternativas de energia na
sociedade. As previsões mais severas dizem respeitos às áreas de transição para
a Amazônia, onde a temperatura corre o risco de aumentar até 6 graus.
Além do aumento do calor, o PBMC
projeta a diminuição no volume de chuvas em 20% até 2040. Nos períodos de seca,
a probabilidade de redução pode chegar a 50%. No nordeste do bioma, que pega
parte da Bahia, do Piauí e do Maranhão, a diminuição pode chegar a 70% em
comparação aos valores atuais de chuvas registrados nesses locais.
Manuel Ferreira afirma que o
aumento da temperatura e a redução das chuvas, juntos, podem ser os eixos de um
ciclo pernicioso. Esse quadro provoca a redução da fotossíntese nas plantas e
aumenta a vulnerabilidade da vegetação ao fogo. O pesquisador também ressalta
que a troca da cobertura vegetal natural por plantas exploradas pelo agronegócio
traz prejuízos ambientais.
A explicação está no carbono que
fica estocado nas plantas e, quando queimados, são jogados na atmosfera. “O
problema é que os plantios ocupam áreas de Cerrado que estavam no ápice de
estocagem de carbono. Mas a soja ou a cana, apesar de serem plantas, não
acumulam a mesma quantidade de carbono de uma árvore nativa”, explica. Outro
diferencial é o fato de as plantações serem cortadas periodicamente, nas
colheitas.
Um dos pontos mais polêmicos do
novo Código Florestal de Goiás diz respeito ao reflorestamento. A lei prevê que
as áreas desmatadas podem ser recompostas com até 50% de árvores exóticas. Para
pesquisadores, o replantio deveria ser feito apenas com espécies nativas, para
manutenção do equilíbrio do ecossistema e estocagem de carbono.
VEGETAÇÃO NATIVA VAI CEDER
LUGAR A PASTAGEM
Os desmatamentos decorrentes das
atividades de uso da terra também representam ameaças ao meio ambiente. O
relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) prevê até 40 mil
quilômetros quadrados de conversão do Cerrado em pastagem e sistemas agrícolas
por década, até 2050, o que comprometeria em cerca de 30% as bacias
hidrográficas do bioma. Apesar do prognóstico, os desmatamentos diminuíram se
comparados às altas taxas nas décadas de 1980 e 1990. Mas nos últimos anos
esses eventos voltaram a aumentar.
Entre 2002 e 2003, foram
desmatados 866 quilômetros quadrados de Cerrado, conforme dados do Laboratório
de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig). Esse número chegou a
cair para 225 quilômetros quadrados entre 2008 e 2009. Mas voltou a subir nos
últimos relatórios do Sistema Integrado de Alerta de Desmatamentos (Siad):
aumentou para 560 quilômetros quadrados de áreas desmatadas entre 2011 e 2012.
O resultado foi a substituição da
vegetação nativa por pastagens, seguida pela agricultura especializada,
urbanização e atividades extrativistas (veja quadro). A ocupação do solo
com atividades agropecuárias desmatou principalmente as áreas planas: 93%,
equivalentes a 80 milhões de hectares. Um estudo do professor Manuel Ferreira,
do Lapig, revela que entre 2002 e 2007 os desmatamentos próximos a rodovias
corresponderam em torno 12 a 15% do total. Em média, 4% do volume é desmatado
para cada 1 quilômetro de distância das rodovias.
Denise Daleva Costa, coordenadora
do Núcleo de Projetos Especiais da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos, considera preocupante o porcentual de desmatamento do
Cerrado, mas argumenta que essa proporção é relativa. De acordo com ela, o
bioma assumiu a primeira colocação após ser instituída uma política de proteção
à Amazônia, em 1994.
1.394842
Fonte: O popular 15/09/2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário