terça-feira, 8 de maio de 2012

O ideal progressista estampado na bandeira de Quirinópolis


 

A ocupação demográfica do território quirinopolino remonta ao século passado, quando a decadência do período da mineração do ouro levou desbravadores mineiros e paulistas a buscar alternativas econômicas.
Assim, incentivados pela política do governo estadual que os isentava de impostos sobre a criação de gado, avançaram  a fronteira para ocupar os espaços vazios desta região, objetivando a criação de bovinos.
A contribuição do sudoeste goiano para o progresso econômico do estado de Goiás foi pontuada, ainda, pela estratégia desenvolvimentista do governo Vargas, no período do Estado Novo, visando a ocupação e o crescimento do interior do Brasil.
Nesse período, o distrito de Nossa Senhora d`Abadia do Paranaíba, pertencente à cidade de Rio Verde, recebeu, por iniciativa da Câmara Municipal daquele município, o nome de Quirinópolis, em homenagem a José Quirino Cardoso, que marcou sua passagem como juiz distrital, importante pecuarista e agente ativo do desenvolvimento local.
Em 22 de janeiro de 1944, deu-se a instalação do município de Quirinópolis, pouco menos de um mês depois de sua efetiva emancipação política, em 31 de dezembro de 1943. Nesse período, a cidade possuía aproximadamente cinquenta residências cobertas de telhas, várias casas de comércio, destacando-se os estabelecimentos comerciais de Lázaro Xavier e de José Quintiliano Leão, o armazém Irmãos Hércules e a farmácia de Gilberto d’Aparecida Ferreira. Havia, ainda, a escola Ricardo Campos, o prédio da prefeitura municipal, a cadeia pública e a residência destinada aos policiais militares.
A cidade se desenvolvia sob os auspícios da pecuária e da agricultura. A intensificação dos desmatamentos na região, para a formação de pastagens e lavoura, oportunizadas pelas técnicas implementadas pela Embrapa, ensejou a formação de uma agricultura de mercado, levando o sudoeste goiano, impulsionado pelo ideal produtivista, a se destacar como grande produtor de alimentos.
Em Quirinópolis, o plantio de arroz e algodão seguia a demanda do mercado na época. A técnica agrícola rudimentar com uso intensivo da força humana e animal nas plantações, sem  métodos científicos de organização, exigia numeroso emprego de trabalhadores braçais.
À época,  o nordeste brasileiro  sofria  estagnação econômica, em razão das constantes secas, deflagrando um processo migratório que levou  milhares de pessoas a abandonarem suas casas no sertão brasileiro por falta de alternativa agrícola e políticas sociais na região, em busca de outras terras mais prósperas.
Neste contexto, Quirinópolis foi o ponto de parada de muitos nordestinos, especialmente os migrantes do estado do Rio Grande do Norte, que aportaram na cidade atraídos pelos convites dos agricultores para reforçarem as fileiras de trabalhadores nas fazendas de arroz, algodão e milho.
A mão de obra nordestina na zona rural  acelerou o desenvolvimento da cidade, inspirando o então prefeito municipal, Hélio Campos Leão, em seu terceiro mandato (1966 a 1970), a reunir a simbologia que retratasse a história de Quirinópolis para compor a sua bandeira.
A ideia da bandeira quirinopolina foi materializada pela lei de iniciativa do prefeito Hélio Campos Leão,  n. 633, de 20 de novembro de 1969, aprovada pela Câmara Municipal.
Com o formato de 100x40 cm, na cor verde, traz, em seu interior, um losângulo amarelo, onde se encontra um círculo branco e nele inserido um escudo português em formato clássico, dividido em listas verde-amarelas, trazendo no centro, em cor azul, um mapa do estado de Goiás, destacando-se a  localização do Distrito Federal, Goiânia e Quirinópolis. Na parte superior do escudo há um campo branco, onde se visualiza um trator e um boi, e uma faixa amarela com os dizeres LEITE E MEL. Ladeando o escudo, há um ramo de flor de arroz e de algodão e ao pé há outra faixa amarela com o nome de Quirinópolis, com a data se sua emancipação política-administrativa, em 31 de dezembro  de 1943.
A lei que criou a bandeira fez nela inserir os símbolos da riqueza econômica que marcava Quirinópolis na época. A agropecuária foi o fator dominante no desenvolvimento da cidade e da região. As inscrições, Leite e Mel, que lhe foram gravadas, simboliza a prosperidade  que sempre permeou o progresso local.
Conta Moisés, no Êxodo bíblico, capítulo 3, versículo 8,  ter ouvido do Senhor a mensagem para que libertasse o povo Hebreu do jugo egípcio e o conduzisse à terra prometida, uma terra que mana leite e mel.
  O então prefeito de Quirinópolis e idealizador da bandeira, Hélio Campos Leão,  procurou eternizar, por meio dessa simbologia bíblica, a ideia de que esta terra também "mana leite e mel” , sendo, portanto, um local de abundância, rico em bênçãos, farto, tanto em alimento quanto em alegrias. Leite é figura de alimento vital, saudável, que dá o crescimento. Mel é figura de coisas gostosas, doces ao paladar. 
            Passadas quatro décadas da instituição legal da bandeira, os dizeres que a ostentam  soam cabalísticos, porquanto a cidade se tornou, seguindo a visão de Helio Leão, uma região promissora para a agricultura, atualmente pontuada pelo cultivo de cana-de-açúcar, a mais doce de todas as culturas, acenando com a promessa de levar Quirinópolis ao pódio dos maiores produtores de açúcar e energia limpa do país e, quiçá, do mundo.