quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O IDEAL PROGRESSISTA DE QUIRINÓPOLIS ESTAMPADO EM SEUS SÍMBOLOS CÍVICOS: A BANDEIRA E O BRASÃO




                                  por Angela Acosta Giovanini de Moura


RESUMO: A bandeira e o brasão de Quirinópolis constituem símbolos municipais que trazem, em seus elementos, características de sua história, bem como as expectativas atuais e futuras da população em direção ao progresso. O presente artigo procurou, por meio de uma pesquisa documental, compreender a relação existente entre os símbolos cívicos do município e o processo de desenvolvimento da região.  A relevância da pesquisa vincula-se à necessidade de ser resgatado o respeito aos símbolos municipais, dada a sua importância para a cultura local.

INTRODUÇÃO
A história de Quirinópolis, marcada pelo ideal progressista de seu povo, foi delineada nos símbolos do município: a bandeira, definida pela Lei nº 633, de 20 de novembro de 1969 , e o brasão, criado pela  Lei nº 1906, de 12 de março de 1993.
A importância dos símbolos oficiais relaciona-se com a ideia que veiculam a respeito de sua gente, referente às suas lutas em favor do crescimento e desenvolvimento de seu território, aos seus hábitos, às suas crenças e às expectativas em relação ao futuro de sua região.
Neste aspecto, os símbolos oficiais do município de Quirinópolis procuraram retratar, em cada elemento que o compõe, as iniciativas vanguardistas do grupo de migrantes mineiros e paulistas, liderados por Custódio Lemes do Prado, João Crisostomo de Oliveira e Castro, José Ferreira de Jesus e outros, que deixaram suas plagas para fincar o progresso nessas estâncias, até então totalmente desabitadas.
Importa considerar que o propósito daqueles primeiros desbravadores sertanejos de prosperar nesse solo, abrindo caminhos, pontes, estradas, para cultivarem a terra e fazê-la produzir, conduzia o projeto político de instalar nessas paragens uma comunidade povoada por homens e mulheres comprometidos com o trabalho em prol do progresso.
Desta forma, é possível pontuar que a ocupação demográfica do território quirinopolino acentuou-se no final do século XX, quando a decadência do período da mineração do ouro levou desbravadores mineiros e paulistas buscarem alternativas àquela atividade econômica que sinalizava escassez.
Assim, incentivados pela política do governo estadual que isentava de impostos a criação de gado, avançaram  a fronteira para ocupar os espaços vazios desta região, objetivando a criação de bovinos.
A contribuição do sudoeste goiano para o progresso econômico do estado de Goiás foi dirigida, ainda, pela estratégia desenvolvimentista do governo Vargas, no período do Estado Novo, visando a ocupação e o crescimento do interior do Brasil.
Nesse período, o distrito de Nossa Senhora d`Abadia do Paranaíba, pertencente à cidade de Rio Verde, recebeu, por iniciativa da Câmara Municipal daquele município, o nome de Quirinópolis, em homenagem a José Quirino Cardoso, importante pecuarista e agente ativo do desenvolvimento local, que também marcou sua passagem na região como juiz distrital.
Em 22 de janeiro de 1944, deu-se a instalação do município de Quirinópolis, pouco menos de um mês depois de sua efetiva emancipação política, em 31 de dezembro de 1943. Nesse período, a cidade possuía aproximadamente cinquenta residências cobertas de telhas, várias casas de comércio, destacando-se os estabelecimentos comerciais de Lázaro Xavier e de José Quintiliano Leão, o armazém Irmãos Hércules e a farmácia de Gilberto d’Aparecida Ferreira. Havia, ainda, a escola Ricardo Campos, o prédio da prefeitura municipal, a cadeia pública e a residência destinada aos policiais militares (PARREIRA; MATTOS, 2010, p.38).
A cidade se desenvolvia sob os auspícios da pecuária e da agricultura. A intensificação dos desmatamentos na região, para a formação de pastagens e lavoura, oportunizadas pelas técnicas implementadas pela Embrapa, ensejou a formação de uma agricultura de mercado, levando o sudoeste goiano, impulsionado pelo ideal produtivista, a se destacar como grande produtor de alimentos.
Em Quirinópolis, o plantio de arroz e algodão seguia a demanda do mercado na época. A técnica agrícola rudimentar com uso intensivo da força humana e animal nas plantações, sem métodos científicos de organização, exigia numeroso emprego de trabalhadores braçais.
À época,  o nordeste brasileiro  sofria  estagnação econômica, em razão das constantes secas, deflagrando um processo migratório que levou  milhares de pessoas a abandonarem suas casas no sertão brasileiro em busca de outras terras mais prósperas, por falta de alternativa agrícola e políticas sociais na região.
Neste contexto, Quirinópolis foi o ponto de parada de muitos nordestinos, especialmente os migrantes do estado do Rio Grande do Norte, que aportaram na cidade atraídos pelos convites dos agricultores para reforçarem as fileiras de trabalhadores nas fazendas de arroz, algodão e milho.
A mão de obra nordestina na zona rural  acelerou o desenvolvimento da cidade, inspirando o então prefeito municipal, Hélio Campos Leão, em seu terceiro mandato (1966 a 1970), a associar na bandeira de Quirinópolis à atividade econômica que permeou o desenvolvimento local.
Mais tarde, passadas duas décadas, quando a agricultura, como atividade econômica principal da cidade, se solidificou, o prefeito à época, Sodino Vieira de Carvalho, promoveu a criação de outro símbolo cívico, o brasão, que deveria também projetar, por meio de seus elementos, os auspício de progresso prenunciados por seu idealizador.

A BANDEIRA MUNICIPAL
A ideia da bandeira quirinopolina foi materializada por iniciativa do prefeito Hélio Campos Leão, na Lei nº 633, de 20 de novembro de 1969, aprovada pela Câmara Municipal.
Com o formato de 100x40 cm, na cor verde, traz, em seu interior, um losângulo amarelo, onde se encontra um círculo branco e nele inserido um escudo português em formato clássico, dividido em listas verde-amarelas, trazendo no centro, em cor azul, um mapa do estado de Goiás, destacando-se a  localização do Distrito Federal, Goiânia e Quirinópolis. Na parte superior do escudo há um campo branco, onde se visualiza um trator e um boi, e uma faixa amarela com os dizeres LEITE E MEL. Ladeando o escudo, há um ramo de flor de arroz e de algodão e ao pé há outra faixa amarela com o nome de Quirinópolis, com a data se sua emancipação política-administrativa, em 31 de dezembro  de 1943.
A lei que criou a bandeira fez nela inserir os símbolos da atividade econômica que imprimiu celeridade no desenvolvimento de Quirinópolis. As atividades agrícolas e pecuária constituem fator dominante que impulsionaram o crescimento do município, desde o seu primórdio aos dias atuais.

As palavras Leite e Mel, estampadas em uma faixa amarela - retratando riqueza-, simboliza a prosperidade que sempre  permeou o progresso local.
Neste aspecto, procurou-se resgatar a imagem mosaica retratada no Êxodo bíblico, capítulo 3, versículo 8,  referente a  libertação do povo Hebreu do jugo egípcio e sua condução à terra prometida, uma terra que mana leite e mel.
Desta forma, o então prefeito de Quirinópolis e idealizador da bandeira, Hélio Campos Leão,  procurou eternizar, por meio dessa simbologia bíblica, a ideia de que esta terra também "mana leite e mel”, sendo, portanto, um local abençoado, acolhedor, alegre,  economicamente promissor e com abundantes possibilidades de trabalho. Leite é figura de alimento vital, saudável, que dá o crescimento. Mel simboliza a fecundidade, a pureza, a longevidade, a saúde e a doçura.
Passadas quatro décadas da instituição legal da bandeira, os dizeres que a ostentam  soam cabalísticos, porquanto a cidade se tornou, seguindo a visão de Helio Leão, uma região promissora para a agricultura, atualmente pontuada pelo cultivo de cana-de-açúcar, a mais doce de todas as culturas, acenando com a promessa de levar Quirinópolis ao pódio dos maiores produtores de açúcar e energia limpa do país e, quiçá, do mundo.

O BRASÃO

Um brasão, na tradição europeia medieval, é um desenho especificamente criado que, obedecendo às regras da heráldica[2], tem o propósito de identificar indivíduos, famílias, clãs, corporações, cidades, regiões e nações.
É importante notar que um brasão constitui um símbolo cívico que traduz uma linguagem própria que denota a história e as características do município.
Em Quirinópolis, o brasão foi instituído pela Lei 1906, de 12 de março de 1993, de iniciativa do Poder Executivo, à época, Sodino Vieira de Carvalho, em sua segunda gestão a frente da prefeitura municipal . É constituído de um escudo, de tradição lusitana, tendo na sua parte inferior, do lado esquerdo, a  bandeira do estado de Goiás, como referência honrosa ao compromisso cívico de amor e respeito ao Estado; ainda na parte inferior, do lado direito, uma homenagem à comunidade quirinopolina,  como premissa de um relacionamento humano e igualitário entre todos; na parte superior, do lado esquerdo, retrata-se a agropecuária, como fonte geradora de riqueza do município; e, no lado direito, a vista panorâmica do município antevisto como uma grande metrópole. No lado externo do Brasão, inseriu-se as imagens do milho e da soja, como culturas predominantes do município e, finalmente, cobrindo o Brasão, na parte inferior, uma faixa vermelha com o nome de Quirinópolis, na cor branca.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os símbolos do município de Quirinópolis, evidenciados por manifestações gráficas possuem  importante valor histórico, porquanto foram criados para transmitir o sentimento de união e civismo da comunidade.
Essas representações, traduzidas na bandeira e no brasão, expressam a imagem da população e, consequentemente, das administrações que a dirigiu, representando, também a identidade do município, a sua evolução política, administrativa e econômica, bem como os seus costumes e tradições.
Os elementos formadores dos símbolos de Quirinópolis  evidenciam as aspirações e os ideais progressistas da comunidade local, objetivando traduzir convicções e valores que se apresentam como indispensáveis para a sobrevivência da cultura local, impondo-se, por isso, sejam difundidos como componentes da história do município.

REFERÊNCIAS
Quirinópolis. Lei nº 633, de 20 de novembro de 1969. Cria a Bandeira de Quirinópolis e dá outras providencias.

Quirinópolis. Lei 1906, de 12 de março de 1993. Cria o Brasão do Município de Quirinópolis e dá outras providencias.

MATTOS. Georgides de Souza. Resumo Histórico de Quirinópolis. Arquivo pessoal datado de 09 de março de 1988.

PARREIRA. Airosa Martins; MATTOS. Gerorgides de Souza. Quirinópolis: mãos e olhares diferentes. Goiania: Kelps, 2010.

RIBEIRO. Angelo Rosa. Salve a bela bandeira de Quirinópolis! .  Disponível em <http://horadoangelook.blogspot.com.br/2010/03/salve-bandeira-de-quirinopolis-leite-e.html>  Acesso em 05/04/2012.

WIKPÉDIA. Heráldica. Disponível em < <http://pt.wikipedia.org/wiki/Her%C3%A1ldica> Acesso em 12/04/2012



[2] ciência e à arte de descrever os brasões de armas ou escudos.