Por Angela Acosta Giovanini de Moura
Autor de mais de setenta livros em diversas áreas do conhecimento, Leonardo Boff, um dos idealizadores da teoria da libertação, é doutor em Teologia e Filosofia pela Universidade de Munique, Alemanha. Defensor ardoroso dos Direitos Humanos recebeu títulos de Doutor Honoris Causa, em Política, pela Universidade de Turim, Itália, e Teologia, pela Universidade de Lund, Suécia. Foi, também, agraciado com Prêmio Nobel Alternativo, em Estocolmo, em razão de sua militância para articular justiça social com justiça ecológica.
Autor de mais de setenta livros em diversas áreas do conhecimento, Leonardo Boff, um dos idealizadores da teoria da libertação, é doutor em Teologia e Filosofia pela Universidade de Munique, Alemanha. Defensor ardoroso dos Direitos Humanos recebeu títulos de Doutor Honoris Causa, em Política, pela Universidade de Turim, Itália, e Teologia, pela Universidade de Lund, Suécia. Foi, também, agraciado com Prêmio Nobel Alternativo, em Estocolmo, em razão de sua militância para articular justiça social com justiça ecológica.
Leonardo Boff, referindo-se à Terra como Gaia, designação
filosófica e científica que visualiza o planeta como um organismo vivo, propõe
nesta obra a mudança do comportamento humano diante da natureza, como saída
para as tragédias anunciadas pela ciência. Nas primeiras páginas do livro, o
autor faz uma biografia da Terra. Reporta-se à teoria do big bang, como marco
inicial do universo e todos os elementos químicos indispensáveis ao
aparecimento da vida no planeta. Com um olhar evolucionista sobre a origem da
espécie humana, descreve o processo de hominização, partindo dos primatas, cuja
linhagem se bifurcou, em razão de um acidente geológico ocorrido há mais de
sete milhões de anos, para dar sequência a duas ramificações, os primatas e a
espécie humana.
A espécie humana logo ocupou 83% da superfície do Planeta,
ameaçando seu equilíbrio e todas as demais espécies vivas. Sua caminhada pelo
mundo foi marcada pela destruição, colocando em risco sua própria existência no
universo. Compete-lhe, agora, nesta era de globalização excludente, o desafio
de encontrar um novo paradigma de produção e consumo, para continuar existindo
(p.37).
Numa abordagem holística do homem e do mundo, o autor reflete
sobre a ordem e harmonia perfeita regulando as forças e os elementos que
sustentam o planeta, para concluir que existe uma inteligência ordenadora,
comandando toda a sinfonia planetária, extremamente sábia e superior à nossa.
A existência de um campo unificado onde interagem as quatro
forças primordiais (gravitacional, eletromagnética, nuclear forte e fraca) e a
descoberta do campo filogenético unificado, reforçam a tese de que o universo é
constituído por uma imensa teia de relações, onde todos os seres vivos se
interagem, impondo-se a conservação da natureza como condição indispensável
para o homem permanecer no planeta (p.59).
A ameaça de extinção da espécie humana levou as autoridades
mundiais ao discurso do desenvolvimento sustentável, norteando projetos
econômicos e ambientais. Para Boff, a desigualdade social e a falta de equidade
mundial, gerando riquezas de um lado e pobreza extrema de outro, desmerece a
política do desenvolvimento sustentável nos moldes em que, atualmente, é
conduzida. O modo capitalista de produção gerou o consumismo desenfreado,
culminando com o aumento da pobreza, aquecimento global e ameaça à
biodiversidade.
Para o autor, a ecologia, as descobertas da física quântica e
da cosmologia, acenam de forma otimista ao quadro ambiental planetário, podendo
apresentar respostas para as três grandes preocupações que afligem a
humanidade: escassez de recursos naturais, mudanças climáticas e aquecimento
global.
Boff assinala que a ética da sociedade dominante é
utilitarista e antropocêntrica, mas as expressões da ecologia podem provocar a
necessária mudança na forma do homem se relacionar com o meio ambiente. A opção
pela Terra exige do homem a superação do paradigma civilizacional vigente,
responsável pela pobreza de dois terços da humanidade, e pela exaustação do
planeta, ante a volúpia da utilização de seus recursos.
Seguidor da teoria de que o universo não é linear, mas
complexo, cujos fenômenos são de natureza quântica, regidos pelo princípio da
indeterminação, incerteza e probabilidade, o autor pauta suas ideias na ética
da compaixão pelo planeta, como tentativa de evitar que as ameaças ao mundo
terminem em tragédias. A Carta da Terra foi escrita com este espírito e embora
não trouxesse em sua origem a preocupação ecológica, foi com este propósito que
foi reeditada em várias reuniões internacionais organizadas pela Organização
das Nações Unidas. Reunindo um conjunto de visões, valores e princípios,
apresenta pontos referenciais do modo sustentável de vida, podendo despertar na
humanidade o reencantamento pelo planeta.
A opção Terra aponta um novo caminho e direção que podem
auxiliar o homem a desenvolver um sentimento de amor à Terra. Sugerindo
mudanças de atitudes diante do universo e da natureza, o autor destaca a
necessidade de se elevar o padrão mental humano para abrigar o respeito à
biodiversidade, às diferenças culturais, aos saberes cotidianos e o amor ao
próximo. O hábito consumista deve dar lugar à simplicidade, buscando-se apenas
o necessário para se viver bem. Na vida diária a democracia se destaca como a
melhor forma de relação e solução de conflitos, devendo ser vivida na família,
na comunidade, nas relações sociais e na organização do Estado. Estabelece que
a mudança nas relações para com o meio ambiente, importa denunciar todas as
agressões à natureza, devendo a humanidade aceitar um comportamento de consumo
sem desperdício e sem agressão ao planeta.
Por fim, o autor encerra sua obra com um cântico emocionante
de louvor, gratidão e amor à Gaia, Planeta Terra, berço esplendoroso que
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
De leitura envolvente e estimulante, as ideias do autor são
permeadas de informações científicas, filosóficas e holísticas, de fácil
compreensão, sendo recomendado ao público em geral. Trata-se de uma obra que
contribui para a formação de uma nova ética planetária, como forma de serem
enfrentadas as ameaças ao planeta, as quais devem ser encaradas como
oportunidade de um novo salto rumo ao estágio superior da história humana.
.
Resenha do Livro A opção Terra, de Leonardo Boff está licenciado sob uma licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-No Derivative Works 3.0 Brasil.
Parabéns ! Excelente Texto.
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