quinta-feira, 6 de maio de 2010

Resenha do Livro " A opção Terra" de Leonardo Boff. * Por Angela A.G Moura





Por Angela Acosta Giovanini de Moura

Autor de mais de setenta livros em diversas áreas do conhecimento, Leonardo Boff, um dos idealizadores da teoria da libertação, é doutor em Teologia e Filosofia pela Universidade de Munique, Alemanha. Defensor ardoroso dos Direitos Humanos recebeu títulos de Doutor Honoris Causa, em Política, pela Universidade de Turim, Itália, e Teologia, pela Universidade de Lund, Suécia. Foi, também, agraciado com Prêmio Nobel Alternativo, em Estocolmo, em razão de sua militância para articular justiça social com justiça ecológica.

Leonardo Boff, referindo-se à Terra como Gaia, designação filosófica e científica que visualiza o planeta como um organismo vivo, propõe nesta obra a mudança do comportamento humano diante da natureza, como saída para as tragédias anunciadas pela ciência. Nas primeiras páginas do livro, o autor faz uma biografia da Terra. Reporta-se à teoria do big bang, como marco inicial do universo e todos os elementos químicos indispensáveis ao aparecimento da vida no planeta. Com um olhar evolucionista sobre a origem da espécie humana, descreve o processo de hominização, partindo dos primatas, cuja linhagem se bifurcou, em razão de um acidente geológico ocorrido há mais de sete milhões de anos, para dar sequência a duas ramificações, os primatas e a espécie humana.
A espécie humana logo ocupou 83% da superfície do Planeta, ameaçando seu equilíbrio e todas as demais espécies vivas. Sua caminhada pelo mundo foi marcada pela destruição, colocando em risco sua própria existência no universo. Compete-lhe, agora, nesta era de globalização excludente, o desafio de encontrar um novo paradigma de produção e consumo, para continuar existindo (p.37).
Numa abordagem holística do homem e do mundo, o autor reflete sobre a ordem e harmonia perfeita regulando as forças e os elementos que sustentam o planeta, para concluir que existe uma inteligência ordenadora, comandando toda a sinfonia planetária, extremamente sábia e superior à nossa.
A existência de um campo unificado onde interagem as quatro forças primordiais (gravitacional, eletromagnética, nuclear forte e fraca) e a descoberta do campo filogenético unificado, reforçam a tese de que o universo é constituído por uma imensa teia de relações, onde todos os seres vivos se interagem, impondo-se a conservação da natureza como condição indispensável para o homem permanecer no planeta (p.59).
A ameaça de extinção da espécie humana levou as autoridades mundiais ao discurso do desenvolvimento sustentável, norteando projetos econômicos e ambientais. Para Boff, a desigualdade social e a falta de equidade mundial, gerando riquezas de um lado e pobreza extrema de outro, desmerece a política do desenvolvimento sustentável nos moldes em que, atualmente, é conduzida. O modo capitalista de produção gerou o consumismo desenfreado, culminando com o aumento da pobreza, aquecimento global e ameaça à biodiversidade.
Para o autor, a ecologia, as descobertas da física quântica e da cosmologia, acenam de forma otimista ao quadro ambiental planetário, podendo apresentar respostas para as três grandes preocupações que afligem a humanidade: escassez de recursos naturais, mudanças climáticas e aquecimento global.
Boff assinala que a ética da sociedade dominante é utilitarista e antropocêntrica, mas as expressões da ecologia podem provocar a necessária mudança na forma do homem se relacionar com o meio ambiente. A opção pela Terra exige do homem a superação do paradigma civilizacional vigente, responsável pela pobreza de dois terços da humanidade, e pela exaustação do planeta, ante a volúpia da utilização de seus recursos.
Seguidor da teoria de que o universo não é linear, mas complexo, cujos fenômenos são de natureza quântica, regidos pelo princípio da indeterminação, incerteza e probabilidade, o autor pauta suas ideias na ética da compaixão pelo planeta, como tentativa de evitar que as ameaças ao mundo terminem em tragédias. A Carta da Terra foi escrita com este espírito e embora não trouxesse em sua origem a preocupação ecológica, foi com este propósito que foi reeditada em várias reuniões internacionais organizadas pela Organização das Nações Unidas. Reunindo um conjunto de visões, valores e princípios, apresenta pontos referenciais do modo sustentável de vida, podendo despertar na humanidade o reencantamento pelo planeta.
A opção Terra aponta um novo caminho e direção que podem auxiliar o homem a desenvolver um sentimento de amor à Terra. Sugerindo mudanças de atitudes diante do universo e da natureza, o autor destaca a necessidade de se elevar o padrão mental humano para abrigar o respeito à biodiversidade, às diferenças culturais, aos saberes cotidianos e o amor ao próximo. O hábito consumista deve dar lugar à simplicidade, buscando-se apenas o necessário para se viver bem. Na vida diária a democracia se destaca como a melhor forma de relação e solução de conflitos, devendo ser vivida na família, na comunidade, nas relações sociais e na organização do Estado. Estabelece que a mudança nas relações para com o meio ambiente, importa denunciar todas as agressões à natureza, devendo a humanidade aceitar um comportamento de consumo sem desperdício e sem agressão ao planeta.
Por fim, o autor encerra sua obra com um cântico emocionante de louvor, gratidão e amor à Gaia, Planeta Terra, berço esplendoroso que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
De leitura envolvente e estimulante, as ideias do autor são permeadas de informações científicas, filosóficas e holísticas, de fácil compreensão, sendo recomendado ao público em geral. Trata-se de uma obra que contribui para a formação de uma nova ética planetária, como forma de serem enfrentadas as ameaças ao planeta, as quais devem ser encaradas como oportunidade de um novo salto rumo ao estágio superior da história humana.

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